sexta-feira, 28 de outubro de 2011

JOCORE-SAFARIS | Jorge Silvano

Jorge Silvano
JOCORE-SAFARIS

A Samba teve como residentes algumas “figuras” curiosas. Pela maneira como habitualmente se vestia, destacava-se um cidadão que vivia na Júlio Lobato, esquerda de quem sobe, três ou quatro casas a seguir á casa da esquina onde morou a minha mulher Elisabete (Beta) Martins. Homem alto e espadaúdo, usava regularmente sapatos grossos ou botas, meias altas, calção e “balalaica”, sendo que por vezes, também protegia a “mioleira” com um chapéu de aba larga, castanho e com a copa ornada com uma fita de “pele de onça”. Creio que se chamava João Correia Resende, faltando dizer apenas que usava “basta e frondosa” barba. Tripulava um Land-Rover cinzento, aberto e de caixa longa e, um belo dia, resolveu mandar pintar-lhe nas portas, “JOCORE-SAFARIS”. Juntem-se todas estas parcelas e estamos em presença de alguém que teria como modo de vida, a caça ou ofício relacionado. Certo, era que o homem tinha lugar cativo na esplanada do Cardoso, durante a tarde e á noite, no lado da praça de táxis, juntando ao seu redor algumas pessoas que o ouviam relatar as aventuras e caçadas. Tinha na audiência habitual, o velho Fernandes, o alfaiate Mourão, os manos Paíííva (Chibadores) e ocasionalmente, outras pessoas. A história que se segue, ocorreu numa noite em que se encontrava presente entre o “respeitável público”, Raúl Loureiro, muito mais conhecido por “Rolito”, dono de “característica forma de andar”, além de ostentar na panturrilha de uma das pernas “magnífica lesão cicatricial”, motivada por acidente de motorizada e que, pelo seu formato e extensão, poderia fácilmente ser entendida como resultado de feroz ataque, protagonizado por animal de boca grande. Estava o Resende das caçadas, particularmente inspirado nessa noite, não deixando por mãos alheias os créditos de aventureiro africanista. Farto de o ouvir, levanta-se de rompante o Rolito e arregaçando a perna da calça “metralhou”: - Sabe lá você o que são jacarés! Olhe! O “gajo” que me fez “isto” – e apontava para a cicatriz, - “Matei-o eu á facada”! E enquanto se afastava, repetiu – “Sabe lá você o que são jacarés”! A “cambada” que sabia a origem da “dentada”, aguardava em serena e calada expectativa o desenrolar da “festança”. Nada! Embatucou o dos “Safaris” e alegando ter que se levantar cedo, saiu pela esquerda baixa a caminho do Land-Rover. Sem ter a certeza, admito que o nome do “jacaré atacante” fosse “Sachs-V5”.

1 comentário:

  1. Olá Jorge Silvano,
    Esta é mais uma das muitas histórias que ouvi ao longo dos tempos acerca deste homem, meu tio, bon vivant, espírito aventureiro e que de algum modo, sempre me inspirou. Africa, Luanda, terra que adoptou, deixando para trás uma vida confortável junto da familia mas que sempre manteve presente de algum modo, José da Costa Resende, é o seu nome correto, Jocore Safaris, o seu modo de vida. Se hoje o relembro como um homem de grandes espaços, talvez também tenha nos genes algo parecido.
    Gostei de ler esta crónica, gosto sempre de ouvir falar do tio Zé.

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