domingo, 30 de outubro de 2011

3 Sambistas no BO - Jorge Silvano

Três Sambistas no B.O.

Numa noite de sábado de cacimbo luandense, estavam sentados na esplanada do "Cardoso" bebendo uns finos, três Sambistas. Sem poderem alargar-se muito, diga-se em abono da verdade, devido a auto-imposto "plano temporário de contenção orçamental". Era normal acontecer, os meses serem mais compridos do que os proventos, ditando com alguma frequência estas restrições. Estavamos práticamente "tesos". Esta é a verdade, nua e crua. Tão tesinhos como um pargo com quinze dias de frigorífico, três "gerações" Sambistas partilhavam as agruras do "capital ausente". Irmanados na penúria, o "mais velho" Branco, com idade para ser meu pai, Helder Simões (Dédé) e eu próprio, "contador" do sucedido e sete anos mais novo que o Dédé. Como se pode verificar, a tradição Sambista de convivio e partilha "intergeracional" é coisa antiga que felizmente, continua a existir. A conversa decorria lenta e mole, o tempo custava a passar e nem o fino que se bebia, era suposto "durar" tanto tempo. Foi nessa altura que um carro desconhecido transportando dois ocupantes, parou junto ao passeio, mesmo em frente a nós. Eram conhecidos do Dédé e fizeram-nos um convite irrecusável. Decorria uma festa (daquelas famosas farras dos sábados luandenses) numa casa particular e estavam com um problema, para cuja resolução "contavam com a nossa ajuda e disponibilidade". Tratava-se de nos convidarem para a tal farra, em virtude de sermos uns "gajos porreiros" e não haver na tal farra, homens em número suficiente para as "baronas" disponíveis. "Se vocês quiserem dar-se ao "incómodo", serão muito bem vindos", disseram. Rápidamente se tomou a decisão de "ajudar quem precisava". Ser solidário, foi e sempre será, característica dos Sambistas. A casa em questão, localizava-se no Bairro Operário, conhecido bairro que abrigava não só "damas das casas da luz vermelha", mas também, muitas famílias "de vida difícil", sérias e honestas famílias de trabalhadores. Fomos recebidos como autênticos princípes. Casa de boa gente originária de Cabo Verde, comida farta e de altíssima qualidade, muita e garbosa cerveja, devidamente gelada em barris cheios de gelo picado, música a condizer e as simpáticas donzelas, disputando os novos convidados para dançar. Era o céu! Coisa fina! Muito fina mesmo! Decorria a farra com grande harmonia e animação, quando por essas quatro da madrugada, estalou a "maka". Dançava-se uma daquelas músicas de "constituir família" e um cidadão dançarino, brindava o público com excelente "performance", puxando a "barona" contra si, assim a modos que dois sinais de abrir parentesis, bem coladinhos. Encontrava-se porém na pista de dança, o "mais velho" Branco com o "depósito bem atestado" e que ao ver a bunda do compadre dançarino, passar ao lado dele assim "espichada", não teve dúvidas e "passou-lhe a mão no côco". Não sei porque artes, em menos de um "fósforo", estávamos os três encostados á parede, devidamente postos em sentido, por força da ameaça que representava a ponta da navalha, demasiadamente próxima, para o meu gosto peculiar, do "apparatus gargantorium" de cada um. Com toda a gente em desalmada gritaria, fomos salvos pelos cidadãos que nos tinham convidado. Segundo eles, o ilustre "oftalmologista Dr. Branco", só teria passado a "luva no matako" do dono da casa (nosso anfitrião, portanto), porque a cerveja que por essa hora ele já teria "derrotado", lhe provocara uma certa "baralhação", levando-o a confundir o respeitável "pacote" de "nhô Toninho" com o da "madame" com quem tinha "namorado" a noite inteira. Demorou algum tempo para o homem se convencer da veracidade dos argumentos apresentados pela defesa, mas finalmente "acalmou" quando o "Dr. Branco", corroborou a argumentação dos "advogados", apresentando as suas desculpas e afirmando não ter havido a menor intenção de desrespeitar o dono da casa, muito menos a digníssima consorte e, menos ainda a residência do casal, onde tão fidalgamente tinha sido recebido. Quando finalmente, as desculpas foram aceites, regressaram as "naifas" aos bolsos respectivos e "nhô Toninho" dirigiu-se ao povo. – "Meus amigos, aqui não aconteceu nada! A farra vai continuar e não se fala mais nisso"! E de facto, continuou. Animada e sem problemas, até cerca das oito da manhã. A essa hora foi servido o "matabicho" e despedimo-nos em seguida, recusando tão polidamente quanto possível, o convite para ficar para o almoço. Regressados ao "Cardoso" para o cafézinho da praxe, seguimos depois para as respectivas residências, a fim de dar ao corpo o repouso diurno que os "pássaros da noite", não só necessitam, como sem dúvida ... ...merecem.

Nota final: Ao contar este "ocorrido", pretendi antes de tudo homenagear póstumamente dois verdadeiros Sambistas e meus particulares Amigos. Descansai em Paz, Sambistas Branco e Dédé.       A "memória" Sambista não vos esquecerá.

sábado, 29 de outubro de 2011

O "Ataque" da bandeja | Jorge Silvano

O "Ataque" da bandeja
Jorge Silvano


Não que eu tenha assistido pessoalmente a este "causo". Nem poderia. Ao tempo, era ainda umacriança e não frequentava, como é lógico, o local do "crime". Trata-se portanto, de tentar relatar uma história que chegou ao meu conhecimento "pela tradição oral" . Talvez outras pessoas do grupo se recordem de a ter ouvido também.
Nos idos de 1961, sentados à mesa da esquina junto ao passeio, da esplanada do "Cardoso", um grupo de alguns (já nessa altura) "veteranos" Sambistas, comentava os acontecimentos recentes que traziam Luanda alvoroçada. Eram os únicos clientes na esplanada e enquanto bebiam uns finos, iam botando "faladura". Pode dizer-se que a esplanada seria o local mais iluminado das redondezas. Do outro lado da Rua da Samba "era mato", não havendo outra construção desde a Rua da Samba até á Avenida de Lisboa, a não ser a já existente "Casa dos Malucos". Embora protegidos pelos arbustos das floreiras, com tudo escuro em redor e eles em local iluminado, fácil será concluir como estavam expostos a qualquer eventual "ataque".
Entre duas "goladas" num fino, dizia um: "Se os gajos vierem ... ... faço assim e assado". Para logo outro afirmar "e eu faço frito e cozido" etc., etc.
Era empregado de mesa o Sr. Fernando, estrábico "de pai e mãe", de quem se dizia (e eu lembro-me muito bem dele) que "olhava contra o governo", exactamente por causa desse problema. Não tendo outros clientes, dado o adiantado da hora e também devido ao "clima", o ensonado Sr. Fernando, aguardava de pé junto à mesa, as ordens necessárias para remuniciar e providenciar o requerido alívio, á secura daquelas gargantas. Tão sonolento estava o homem, que em dado momento "se passou" mesmo. Foi apenas a fracção de segundo necessária para que a bandeja lhe escorregasse das mãos, aterrando no pavimento de cimento. Por estranho que possa parecer, aterrou "de chapa", provocando um som que alguns dos presentes confundiram com o "estampido" de um tiro.
Desapareceram os heróis, "voando" em todas as direcções, procurando o abrigo que os pusesse a salvo do "ataque", enquanto os que se tinham apercebido do sucedido, tentavam consolar o pobre e desolado Fernando que se explicava e pedia desculpa pela "ocorrência".
Como nada mais acontecia, foram aos poucos regressando os "pássaros" e retomando  lugar à mesa, quando verificaram que o "mais valente", não tinha regressado. "Se calhar foi p'ra casa", disseram alguns. "Não", disse o Sr. Fernando, "ele foi lá p'ra dentro. Eu vi!"
Procurando o "desaparecido em combate", partiu para o interior do café uma equipa de " busca e salvamento", tendo descoberto o nosso "herói" trancado na casa de banho. Logo o informaram que o perigo "tinha passado". Saiu o "guerreiro" do abrigo e ouviu as explicações sobre o "caso". Indignou-se o homem. Encarando o Sr. Fernando, vociferou: "Pôrra Fernando! Essa merda não se faz! Tens que ter mais cuidado, pá! Nós estamos em guerra, entendes? EM GUERRA, PÔRRA!!

No "Cardoso", onde quase tudo acontecia | Jorge Silvano

No "Cardoso", onde quase tudo acontecia.
Jorge Silvano
Embora o nome oficial fosse Cervejaria Brasilia, para mim será sempre "O Cardoso". Ocupava a esquina da Rua da Samba com a Rua Francisco Sotto Mayor, no Bairro da Samba, Cidade de S. Paulo da Assunção de Luanda, capital de Angola.
Era ali que nos juntávamos para o cafézinho, jovens adolescentes, "mais velhos" e honrados pais de família, em salutar convivência e onde ... ... quase tudo acontecia.
A exemplo do que era norma em lugares semelhantes, no Cardoso, os empregados pagavam ao balcão o que os clientes haviam solicitado, sendo depois ressarcidos desse investimento, quando os fregueses pagavam as despesas respectivas.
Para além dos esquecimentos e do "pendura aí" que eu pago logo, aconteciam também as golpadas.
O Mário, empregado de mesa, aproximou-se certa tarde, queixando-se amargamente:
-Um café aqui, um fino ali ... ... ao fim do dia, é uma data de "massa".
O Sr. Fernandes (técnico de máquinas de escrever), logo lhe disse: - Pede-lhes o dinheiro adiantado!
- Não posso, senhor Fernandes. Isso, não posso fazer!
- Nesse caso, tens que arranjar outro sistema. Olha! Devias ter um "sistema de ventosa".
- E que raio de sistema vem a ser esse? Perguntou o Mário.
- Muito simples, pá! Vamos imaginar que um "gajo" qualquer te pede um café. Tu vais lá dentro, trazes uma chávena vazia, mais o respectivo "aparelho".
- Mas qual aparelho? Espantou-se o Mário.
- Oh pá! Tem que ser assim uma espécie do "aparelho dos clistéres",mas com ventosa. Deixa-me acabar que já percebes! Ora bem. Pões a chávena em frente ao freguês e abres a torneirinha. Enches a chávena e ... ... agora muito cuidadinho! Antes do "gajo" lá por os beiços, pedes logo a "massa"! Se o "animal" pagar, fica o caso arrumado.
- E se não pagar?
- Aí é que entra a ventosa! Se começar com "nhã,nhã,nhã", "pago depois" ou "outra trampa" qualquer, tu ligas o "sistema de ventosa" e "chupas" o café outra vez p'ró depósito. Percebes?
Um café ... ... e tu FZZZ! Pago depois ... ... e tu SCHLUP!
Não pode falhar! Que grande ideia que eu tive! Tás a ver, oh Mário! Café ... ... FZZZ, pago depois ... ... SCHLUP!
Que a terra lhe seja leve, "Velho Fernandes".
Vidas Sambistas

O Parque Mágico e o cão

O Parque Mágico e o cão

Fotografias




Helder Ventura
Os Artistas do filme…. 3+1  
"Cabeludos no Capinzal" à espera das pacaças!


Retrosaria da Samba | Rua Souto Mayor - 1972

Retrosaria da Samba | Rua Souto Mayor - 1972
Vidas Sambistas

Mazda Mal Estacionado | Amilcar Felgueiras

Mazda Mal Estacionado
Amilcar Felgueiras

O Madza (mal estacionado)... hehehe... no Parque mágico, ja com "calcantes" goodyear. *ps:os "artistas" na foto... não eram kimbandas... ni hablar!
Os candeeiros esses...upssss... as árvores, as eternas... mantinham as mensagens de platónicos e por vezes impossíveis amores, traçadas ao longo dos tempos pela Nação sambista.


Vidas Sambistas

Matrimónio | Helder Fernando Pitta-Groz

Matrimónio
Helder Fernando Pitta-Groz

No dia 27 de Outubro de 1984, o cidadao Helder Fernando Pitta-Groz
decidiu contrair matrimonio.
Havia dificuldades de diversa ordem para organizar a boda. Tive de recorrer aos conhecimentos,amizades,etc.
Jota arranjou-me 1 cx de whisky,nao sei onde arranjou,mas neste momento e mesmo no proprio dia ninguem perguntou.
O diretor do hotel tropico era 1 jovem de Benguela,Antonio Neto,agora responsavel do projeto da empresa de seguros AAA(3 AS),que pretende construir 1 hotel de 4 estrelas em cada provincia.Alguns ja estao em construçao.Fizemos amizade,pois na epoca o sitio + decente para se comer era no restaurante do hotel tropico.
A primeira vez que soube que havia whisky de 21 anos,foi qdo ele ofreceu-me 1 garrafa de CHIVAS ROYAL SALUTE.
Bebiamos umas cervejolas e pouco mais.
Voltando ao assunto, o amigo Neto sabendo da decisao do cidadao,de imediato colocou a cozinha do hotel para confecionar algumas iguarias.
No dia agendado para o evento,por volta das 15h,fui ao hotel recolher as iguarias p deixar no local da boda. Lembrem-se que tambem havia dificuldades de transportes.
Chegado ao hotel,encontro o Augusto Manuel,com o seu toque de bigode peculiar-
Entao meu miudo que fazes por aqui? Conto-lhe o que se passava e acabo por dizer-lhe onde seria a boda-no falecido Clube da Banca,em frente a Radio Eclesia,Emissora Catolica.
La fui cumprir com o ritual que a situaçao impunha e por volta das 19h inicia a boda,com os manjares e quetas.
Por volta das 22h estava o cidadao sentado,conforme a situaçao do evento exigia,quando é solicitada a sua presença na porta do recinto,porque o diretor do hotel tropico tinha chegado e exigia a presença do noivo para entrar no salao.
Achei estranha a exigencia do Neto-diretor do hotel,mas mediante tanta insistencia e tendo em conta o seu contributo para que a boda se realizasse,la o cidadao levantou-se e dirigiu-se a porta.
Olhando a toda volta e nao vendo o Neto,pergunta onde esta o senhor Neto?
Ai surge o Augusto Manuel,que dando 1 toque no bigode diz:
Foi só para eles saberem que és meu miudo,assim vieste buscar-me para eu entrar e a partir de agora o respeito sera outro.
Agusto Manuel tem muitas.Ainda tenho outra dele.Fica pra proxima. A vidav dele daria 1 BOM livro.Seria best seller dependendo de quem escrevesse.

Vidas Sambistas

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Uma Certa “Doença” | Jorge Fernandes

Uma Certa “Doença”
Jorge Fernandes

No Parque, desenvolvemos uma certa “doença”, que era achar nossa pertença, os carros que todos os dias estacionavam no sentido descendente, e em noite de casa cheia na ascendente durante as mais ou menos três horas, que era o que levava a soirée no Cinema Tivoli.
Que ninguém me acuse de nada, pois não fui eu que pari a doença, quanto muito, fui mais uma das vítimas e por contágio.
Eu até penso que o surgimento dessa “doença”, foi resultado de nos terem imposto a sua presença.
Afinal em que bairro, os seus habitantes cresceram a levaram com a invasão da sua privacidade, dia após dia, ano após ano, com um corrupio de viaturas a chegar, estacionar, e sem nos pedirem licença durante aquelas três horas? Nenhum. Penso pois, que essas horas diárias, o longo convívio a que fomos forçados, será a raiz do problema.
Posto isto, encostarmo-nos, sentarmo-nos em cima deles, começou por ser algo normal, mesmo natural, e de tal forma o achávamos, que o seu proprietário por vezes quando chegava no fim do filme, tinha que tossir, para se fazer notar, e havia os outros, aqueles que não se assustavam com os miúdos cabeludos que povoavam as redondezas, e se atreviam a mandar umas bocas, tipo; Ouve lá ó gedelhudo, pensas que isso é o sofá lá de casa? Bem…alguns deles, não se deram lá muito bem com essas bocas. Mas isso são outras estórias.
Mas voltemos à intimidade que se foi desenvolvendo, entre nós e as tais de viaturas invasoras de bairros alheios, que degenerou na tal de “doença”. É que nós fomos crescendo meus amigos, e então começamos já a não contentar-nos em apenas arrancar das viaturas, os autocolantes da Bonzão, ou aqueles trevos verdes de 4 folhas, e outras publicidades da época, que acabávamos por colar nas janelas de vidro do quarto, ou mesmo em algumas capas de livro.
Começamos a olhar para as viaturas invasoras, mas simultaneamente íntimas, como algo parecido com as bombas de combustível da Shell, ou da Sacor, por exemplo.
É. Afinal depois dos tempos de andarmos de bicicleta…o que vem a seguir…as motas, não é assim? Depois chegam os carros. Foi como os triciclos, que se viram relegados pelas bicicletas. É ordem natural das coisas. E as motos andam a gasolina, e a gasolina custa dinheiro. E nós tínhamos tantas “bombas de gasolina” por noite à nossa disposição, que casava com a falta de Money, Kumbu, Jimbuku, no bolso.
Elas vinham ter connosco, nem as precisávamos de chamar. À hora certa, lá apareciam elas. Penso que havia mesmo, quem andasse um pouco menos à tarde, para esperar que os postos de combustível chegassem ao bairro para atestar o depósito.
O processo era simples, uma pequena mangueira, um bidonzito, quando não era directo do carro invasor para a mota, e abrir qualquer depósito das viaturas, foi coisa que se aprendeu. Até porque não faltava matéria-prima para praticar. Ficamos craques naturalmente. Tão craques que parecia que até só de olhar, acertávamos nos que estavam com o tanque cheio, e aqueles que estavam quase de tanga…tal como nós.
Vocês podem não acreditar…mas nós éramos uns joves generosos, e uma vez até abastecemos uma das viaturas invasoras, pois alguém chegou à conclusão, que o pobre do dono, não chegava a casa com a gasolina que tinha.
Foi um acto de solidariedade, para com alguém que escolheu entre ir ver um filme ao nosso Tivoli, ou abastecer a viatura, ou então até a ia abastecer, mas se calhar já não podia depois do cinema ir comer um prego no pão e xupar uma Nocal ao Baleizão, por falta de dinheiro.
Assim, viu o filme, e deve ter pensado depois que tinha havido um milagre naquele Parque, pois olhou para o indicador do combustível, que tinha a certeza que já estava mais que na reserva, e já se movia só com o vapor, e agora ali estava ele bem cheio. Coisas que aconteciam naquele Parque Mágico.

Festas de Carnaval no Tivoli | Helder Ventura

Festas de Carnaval no Tivoli
Helder Ventura

As festas de carnaval no Tivoli eram sem dúvida das melhores e mais famosas de Luanda , abrilhantadas por músicos conhecidos ,importados do Brasil e locais ...lembro-me do Vasco Rafael ...
No jardim á frente (o nosso parque ) havia e ainda há , uma constução polivalente que servia para guardar o material de jardinagem , urinóis , e uma central eléctrica de transformação e distribuição de electricidade para todo bairro cuja chave nos veio parar á mão por distração do funcionário encarregue da sua manutenção.
Mas voltando ás famosas festas de carnaval no Tivoli cujos preços de entrada eram proíbitivos para as nossas magras semanadas , e que o gerente do Tivoli , o Sr. David , não abria mão, o que para nós era uma injustiça e falta de respeito ...
No auge da festa , enviávamos um mensageiro para falar com o dito Sr. David no sentido de convidar para entrada gratuita um grupo de sete, oito ou dez ... ou não haveria electricidade para a festa . O homem nunca aprendeu nada pois todos os anos este número se repetia , e achava que era "bluff " porque não teriamos capacidade para cortar a eléctricidade .
Quando o mensageiro regressava ao núcleo das operações no centro do parque com a resposta negativa do Sr. David , a eléctricidade era cortada cinco minutos , ligada , e cortada dez minutos depois e assim sucessivamente ... até que chegava o mensageiro do Sr. David com convites gratuitos com direito a bebidas para toda a gente ...
Quem neste grupo fez parte dos " convidados " do Sr David , é livre de acrescentar a este texto mais dicas sobre o assunto!

JOCORE-SAFARIS | Jorge Silvano

Jorge Silvano
JOCORE-SAFARIS

A Samba teve como residentes algumas “figuras” curiosas. Pela maneira como habitualmente se vestia, destacava-se um cidadão que vivia na Júlio Lobato, esquerda de quem sobe, três ou quatro casas a seguir á casa da esquina onde morou a minha mulher Elisabete (Beta) Martins. Homem alto e espadaúdo, usava regularmente sapatos grossos ou botas, meias altas, calção e “balalaica”, sendo que por vezes, também protegia a “mioleira” com um chapéu de aba larga, castanho e com a copa ornada com uma fita de “pele de onça”. Creio que se chamava João Correia Resende, faltando dizer apenas que usava “basta e frondosa” barba. Tripulava um Land-Rover cinzento, aberto e de caixa longa e, um belo dia, resolveu mandar pintar-lhe nas portas, “JOCORE-SAFARIS”. Juntem-se todas estas parcelas e estamos em presença de alguém que teria como modo de vida, a caça ou ofício relacionado. Certo, era que o homem tinha lugar cativo na esplanada do Cardoso, durante a tarde e á noite, no lado da praça de táxis, juntando ao seu redor algumas pessoas que o ouviam relatar as aventuras e caçadas. Tinha na audiência habitual, o velho Fernandes, o alfaiate Mourão, os manos Paíííva (Chibadores) e ocasionalmente, outras pessoas. A história que se segue, ocorreu numa noite em que se encontrava presente entre o “respeitável público”, Raúl Loureiro, muito mais conhecido por “Rolito”, dono de “característica forma de andar”, além de ostentar na panturrilha de uma das pernas “magnífica lesão cicatricial”, motivada por acidente de motorizada e que, pelo seu formato e extensão, poderia fácilmente ser entendida como resultado de feroz ataque, protagonizado por animal de boca grande. Estava o Resende das caçadas, particularmente inspirado nessa noite, não deixando por mãos alheias os créditos de aventureiro africanista. Farto de o ouvir, levanta-se de rompante o Rolito e arregaçando a perna da calça “metralhou”: - Sabe lá você o que são jacarés! Olhe! O “gajo” que me fez “isto” – e apontava para a cicatriz, - “Matei-o eu á facada”! E enquanto se afastava, repetiu – “Sabe lá você o que são jacarés”! A “cambada” que sabia a origem da “dentada”, aguardava em serena e calada expectativa o desenrolar da “festança”. Nada! Embatucou o dos “Safaris” e alegando ter que se levantar cedo, saiu pela esquerda baixa a caminho do Land-Rover. Sem ter a certeza, admito que o nome do “jacaré atacante” fosse “Sachs-V5”.

O Parque Mágico | Vidas Sambistas